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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O "Sim" à vida de Ernesto Sabato e Rubem Alves

Esse ensaio tem como objetivo aproximar as reflexões relacionadas a vida na obra do escritor       argentino Ernesto Sabato e do educador e escritor brasileiro Rubem Alves.
2012 começou! Em minha primeira leitura desse ano fiquei surpreendido e encantado com a vida. Ganhei de presente um livro pequeno em sua forma, mas grandioso em sua estrutura. "Se eu pudessse viver minha vida novamente..." (Rubem Alves) é um livro encantador. Devorei-o em poucas horas. E em cada reflexão, não pude parar de pensar em um outro livro: " A Resistência" (Ernesto Sabato). Uma obra conversa com a outra em cada página. E para comprovar essa afirmação, basta notarmos cada pensamento dos autores.
Começaremos com a resposta de cada um do que será:

A Infância...

"Minha infância foi uma infância feliz. Vivi anos de pobreza. Mas não tenho desses anos nem uma memória triste. As crianças ficam felizes com pouca coisa. Não era preciso dizer os nomes do deuses nem eu o sabia. O sagrado aparecia, sem nome, no capim, nos pássaros, nos riachos, na chuva, nas árvores, nas nuvens,nos animais. Isso me dava alegria! Como no paraíso... No paraíso não havia templos. Deus andava pelo jardim, extasiado, dizendo: Como é belo! Como é belo! a beleza é a face visível de Deus. Menino, o mundo me era divino e sem deuses. Talvez seja essa a razão por que jesus disse que era preciso que nos tornássemos crianças de novo, para ver o paraíso espalhado pela terra" (Rubem Alves)

"No desespero de ver o mundo, eu já quis até parar o tempo da infância. Sim, ao vê-las aglomeradas numa esquina, nessas conversas herméticas que para adultos não têm nenhuma importância, senti a necessidade deter o cursos do tempo. Deixar essas crianças para sempre lá, naquela calçada, naquele universo encantado. Não permitir as sujeiras do mundo adulto as machuquem, as derrubem. A ideia é terrível, seria como matar a vida..." (Ernesto Sabato)

Notamos uma comunhão na ideia de que a infância é o estado em que o homem é puro, simples, e que a vida  é encantadora.

A Eternidade nos instantes...

"Não há outro modo de atingir a eternidade a não ser aprofundando-se no instante, nem outra forma de chegar a universalidade que não através da própria circunstância: o aqui e agora. Mas como? Revalorizando pequeno lugar e o breve tempo em que vivemos, que nada têm a ver com as maravilhosas paisagens que podemos ver na televisão, mas que estão sagradamente impregnados da humanidade das pessoas que neles vivem" (Ernesto Sabato)




"O amor é onívoro- quer comer tudo. Comer é a forma mais radical de possuir. Comendo, o que estava fora e o outro passa a ser parte do meu próprio corpo. Sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas. comeria toda a terra. Beberia todo o mar, dizia Neruda" 
(Rubem Alves)

O Destino...

"Existe na vida um valor que permanece muitas vezes invisível para os outros, mas que o homem escuta no fundo da alma: é a fidelidade ou traição ao que sentimos como destino ou vocação a cumprir.
O destino, como tudo que é humano, não se manifesta em abstrato, mas encarna numa circunstância muito pobre nos confins de um império.
Nem o amor, nem os encontros verdadeiros, nem mesmo os profundos desencontros são obra do acaso, e sim algo que nos está misteriosamente reservado" (Ernesto Sabato)

"Eu estou onde estou porque todos os meu planos deram errado.
Isso é absolutamente verdadeiro. As pontes que construí para chegar aonde eu queria ruíram uma apos a outra. Fui então obrigado a procurar caminhos não pensados. E aconteceu, por vezes, que nem mesmo segui, por vontade própria, os caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me empurrou. Fui literalmente obrigado a fazer o que não queria" (Rubem Alves)


Realmente o destino nos oferece o impremeditado, o imprevisto, mas também o exuberante, o maravilhoso...

A Liberdade...

" Acredito que a liberdade nos foi destinada para cumprir-mos uma missão na vida;  sem liberdade nada vale a pena. E mais: acredito que a liberdade a nosso alcance é maior do que aquela que ousamos viver" (Ernesto Sabato)

"Que mais bela experiencia mística posso desejar? Eu e o universo em silenciosa harmonia... Que milagre ou aparição de Virgem pode se comparar a esse sentimento? Eu, infinitamente pequeno, grão de areia e, ao mesmo tempo, infinitamente grande, bebendo o universo com meu olhos" (Rubem Alves)

Poderia eu  tecer inúmeros pensamentos desses dois autores. Entre eles: a educação, a modernidade, a sociedade, a morte, a imortalidade, mas separei  uma última observação. Que na real significa uma grande provocação:
O porque do Sim à vida? O Porque de resistir?

" Há dias em que me invade a tristeza de morrer e, como se fosse possível enganar a morte, corro a me entrincheirar em meu estúdio e me ponho a pintar com frenesi, crente de que ela não me arrebatará a vida enquanto houver uma obra inacabada entre minhas mãos. Como se a morte pudesse entender as minhas razões, e eu bancar de Penélope para detê-la" (Ernesto Sabato)

"Ah! A vida é bela! O mundo é belo! E por isso que toda despedida é triste. E é isto que eu sinto: que a morte é uma saudade sem remédio.
Desta distância onde estou quero lhe dizer isto: Voce faz parte da maravilha do mundo. É preciso que voce fique, para que a saudade seja, pelo menos, adiada. Pois isto é o máximo que podemos fazer: adiar a saudade. Mais cedo ou mais tarde 'se romperá o fio de prata, e se despedaçará o copo de ouro, e se quebrará o cântaro junto à fonte' (Eclesiastes 12,6).
E, quando isso acontecer, só nos restará fazer a mais inútil de todas as coisas: Chorar...
Até lá, celebraremos a vida" (Rubem Alves)




A vida...
E para voce leitor... Porque resistir? Para quê e quem viver intensamente?


" Cada hora do homem é um lugar vivo da nossa existência que ocorre uma única vez, insubstituível  para sempre"
Ernesto Sabato (1911 - 2011)

Que em 2012 podemos celebrar a vida. Que possamos viver novamente, e não apenas sobreviver neste mundo...









4 comentários:

  1. Caro Danilo,

    A parte encantadora da sua escrita, não são os achados que apontam as aproximações dos dois autores, pois isso nem é tão importante, os humanos se assemelham e diferem pelo mundo e passam pela vida sabendo quase nada do outro, a parte que encanta é a leitura, o destaque dado aos seus ditos, a seleção de trechos que traduzem de maneira tão delicada as coisas da vida e dos humanos.
    Continue escrevendo, partilhando, buscando, sensível e convidativo as leituras das escritas, das pessoas, das histórias.
    Beijo grande e parabéns!!
    Professora Helena

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  2. Olá meu caro,
    Uma única pergunta:
    Por que raios haveríamos de crescer?
    Feliz 2012 e até o fim do mundo...
    Ricardo Guarnieri

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    Respostas
    1. Meu caro mestre, crescer é uma qualidade do homem.Crescimento não está apenas relacionado a estatura, a status, a condição... Crescer é ser mais!!! Voce pode ser mais romântico como também pode ser niilista, ou pode ser os dois: um romântico niilista ou niilista romântico... mas nunca deixe de se lembrar: "O mundo não é, o mundo está sendo" (Paulo Freire).
      Abraço, e até o fim do mundo... ou o começo de novos mundos (que sejam possíveis!!!)pois estou cansado da ilusão...
      Danilo Pereira

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  3. Bom, agora foi um golpe baixo (rss) , falar sobre a Infância é simplesmente mágico, tudo isso porque além de nos fazer viajar pelo tempo, nos leva a uma análise da criança que habita em nós. Assim digo, existe algo mais belo que a criança? Então, para aumentar o golpe, escreves ainda sobre o Destino, substantivo fascinante e incerto traçado misteriosamente por Deus.
    Para completar, ressaltas a Maravilhosa Liberdade, “essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda". (Cecília Meireles)
    Enfim, o desfecho se completa com uma das mais belas palavras inventadas depois do amor, ao meu ver – a vida “é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore,dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". (Charles Chaplin)

    Portanto, escritor, nem mesmo em Minha Infância Querida imaginei um dia, que a Liberdade amiga traria o louco destino de lhe reencontrar Minha Vida.

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