Para tal finalidade abordaremos a pintura "Crucificação" de El greco, usando a mesma como sombra do poema "Buscando a Cristo" de Gregório de Matos. Traremos a baila o diálogo que ambas as obras fazem no quesito paradoxal da época do barroco.
O Barroco foi uma tendência artística que se desenvolveu primeiramente nas artes plásticas e depois se manifestou na literatura, no teatro e na música. Marcado por uma visão pessimista de vida- consequência de uma profunda crise econômica e social e da desilusão com os ideais humanistas e do Renascimento.
A Arte Barroca expõe a tensão pela qual passa o homem seiscentista, pressionado entre o antropocentrismo e o teocentrismo. O Barroco é caracterizado pelo conflito, pelo jogo dos opostos, pelo emprego de símbolos que revelam a instabilidade das coisas e a efemeridade de tudo. Assim temos tais características na pintura de El Greco:
Notamos o jogo de opostos entre as nuvens Brancas e as Negras, misturando-as em um conflito que pode ser traduzido como Pureza e Pecado; Dia e Noite; Trevas e Luz. Mas notamos também que mesmo diante de tal conflito, o corpo de Cristo não recebe as trevas, ele simplesmente enaltece a luz.
A também a imagem dos dois homens. O da esquerda com suas vestes brancas representa a santidade, porém tal santidade recebe em seu pescoço um laço negro, podendo assim dar um sentido de oposto. A santidade estando manchada pelo sofrimento de Cristo. O homem do lado direito todo de negro representa o pecado dos homens; manchados pelo erro, porém outro oposto nos aparece, pois no pescoço do homem de preto está um laço branco. Mostrando assim que mesmo pelo pecado, pela mancha de erro dos homens, a misericórdia para humanidade. Enquanto as mãos do homem de branco se juntam as do homem de preto se separam. O corpo físico estava se separando da terra, porém o corpo incorruptível estava unindo Cristo, Deus e os Homens. Se podemos traduzir essa obra em uma palavra, ousamos dizer : Conflito. Ao mesmo tempo que Choca-nos, purifica-nos.
E este mesmo êxtase místico que vive o Cristo na pintura de El Greco, e bem declarado no ´poema de Gregório de Matos:
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Santo Deus, o que dizer de El Greco? E ainda por cima Gregório de Matos? Assim não aguento (rsss). Bom, sou suspeita para falar de óleo sobre tela, e sua perspectiva sobre esse pintor foi fabulosa. Acrescento ainda a análise das mãos que psicologicamente, unidas representam a súplica, e a mão direita do outro homem sobre o ventre esconde algo, ao mesmo tempo em que a mão esquerda estendida, pede algo. A tela também nos remete a conversão dos patronos aos ensinamentos do Cristo, porém simbolizando os opostos, esclarecido por você. Quanto ao Gregório de Matos, faz jus ao apelido que lhe deram para uma época de trevas e luzes em conflito que não poderiam entender a complexidade dos pensamentos sinceros deste mestre satírico da Literatura.
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